terça-feira, 22 de abril de 2008

Palavras coloridas e palavras sem cor


A partir de um pequeno passeio pedestre e pensando em palavras coloridas e palavras sem cor, fazer dois textos.

Num banco de jardim uma criança brincava com um carrinho longe de pensar que o peluche que segurava no colo tinha vindo de uma daquelas montras. Como o diamante que a avó ostentava no colar que lhe compunha o pescoço. Distraída, balanceava o olhar entre os saldos que saltavam de vidros convidativos e as varandas que ocultavam vidas interiores para lá de paredes. Olhou então para o relógio, assustou-se e quase gritou:
- Carolina, vem já comer a tua salada de frutas!
- Não quero. Tem laranja que não combina com o meu casaco grenat. Quero antes aquela gelatina!
Impaciente com a petulância da garota, a avó olhou para a montra que ela apontava e dedicou-se a pensar como tudo seria mais fácil se as montras da cidade não prometessem tantos atractivos aos miúdo, sem reparar que havia sido numa daquelas montras que se apaixonara pelo diamante que agora lhe pesava no pescoço e do qual nunca mais se apartara.


Semáforos. Passadeiras. Gente apressada. Polícias. Gente que puxa por notas para pagar o que não vai precisar. Cortinas. Gente que se esconde para lá da sua vida. Dejectos. Lixo. Resíduos que se acumulam nas pedras da calçada. Gente que espera na escuridão por uma sopa. Noite. Preto. Breu. Gente que espreita de marquises cinzentas. Carros. Trânsito. Gente que corre. Palavras sem sentido outrora. Stress. Vida apressada. Desamor.

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