terça-feira, 22 de abril de 2008

Farejando palavras


A partir de 12 postais contendo gravuras, e das sensações olfactivas ali sugeridas, construir uma frase por cada imagem. 10 minutos. Um texto

Frases:
- Bagos de amarelo cuidados com amor de pai
- Enrugados de desertos arenosos
- Outono vermelho com searas de pedra
- Procuro á sombra de um Verão, a subir até agarrar frutos caídos de cores de lima e laranja
- Farejando violetas
- Natureza agreste em tapetes de relva e fundos verdejantes
- Mar imenso eternamente à espreita por entre canaviais
- Núcleos vagueando de interiores de papoila
- Aromas saídos dos livros que guardo nas prateleiras junto ao meu forno
- Por mais longas que sejam as minhas pernas, vejo que nunca chegarão ao sol
- Reflexos de limão onde habitam folhagens amareladas
- Pequenos almoços vibrantes em mantas de lã quentinhas

Fechei os olhos e vi-me como sempre: à sombra de um Verão à procura, mas sempre a subir até agarrar frutos caídos de cores de lima e laranja. Não era a primeira vez que me sentia a farejar violetas. Mas por entre bagos amarelos cuidados com amor de pai, eu encontrava com frequência um Outono vermelho por entre searas de pedra. Porquê então aquela eterna sensação de haver uma natureza agreste com tapetes de relva e fundos verdejantes? Em que lugar da minha infância ficou o mar imenso, eternamente à espreita por entre canaviais? Abri os olhos e não senti nada, nada mais via que reflexos de limão. Voltei a fechar os olhos e outra vez aquela impressão de aromas saídos aos tropeções dos livros que guardo nas prateleiras junto ao meu fogão, aquela recordação de pequenos-almoços aconchegantes em mantas de lã quentinhas. Abri de novo os olhos e olhei para cima: sempre aquela sensação de que por mais longas que sejam as minhas pernas, nunca chegarão ao sol.

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