quinta-feira, 30 de julho de 2009

Inha, inha...


Mote: escrever um texto que inclua as palavras: alface, chatice, aspirinas, inversão, contenda.

Uma vontadinha andava aflitinha por comer uma saladinha. Alface, pensou, alface para uma alfacinha seria a melhor opçãozinha. Umas folhinhas de alface numa tigelinha, um fiozinho de um bom azeitinho e em poucos minutinhos faria um bom almocinho. Que chatice, não ter ali à mão a dita verdurinha. Não fosse a contenda, uma briguinha sem importância, que mantinha há anos com o dono da lojinha ao fundo da sua casinha, e a esta hora já estaria a caminho.
Não faz mal, resolveu a nossa vontadinha. Se o fulaninho me tratar mal, passo na farmácia do Sr. Agostinho e compro um remediozinho, quem sabe umas aspirinas ou um analgesicozinho.
Pegou no carrinho, fez inversão no caminho e foi à vidinha, cuidar da sua fominha.

Mote de: Nuno

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segunda-feira, 27 de julho de 2009

Um salto até ao céu


Mote: escrever um texto iniciado por: "Naquele dia, saltei por cima da minha sombra."

Naquele dia, saltei por cima da minha sombra. Foi um dia feliz. Calcei os meus sapatos voadores e galguei por cima de árvores e de pássaros, de aviões e arranha-céus que pareciam tocar a eternidade.
Continuei para lá das nuvens, estendi os braços e senti as gotas da chuva por entre os dedos.
Sem parar, alcancei os raios do sol e vi aquecer em mim a coragem de voar cada vez mais alto.
Enfrentei obstáculos cruéis, mas fui mais forte e nada me deteve.
Não quis ouvir os que me agouravam uma queda fatal e fui mais além, em busca do meu lugar, ao lugar onde sempre vamos quando procuramos um sonho.
Nesse dia, fui maior do que as maiores montanhas que encontrei no mundo. A minha sombra perseguia-me, acompanhava-me nos meus saltos de gigante, mas aquela era uma corrida que ela não poderia vencer, porque me animava uma grande voragem, eu queria chegar mais longe do que a minha própria vontade.
Nesse dia, saltei por cima da minha sombra e cheguei ao céu.

Mote de: Graça

terça-feira, 7 de julho de 2009

E tu? Onde o encontraste?


Mote: escrever um texto iniciado por: "Acho que ele foi encontrado no caixote do lixo..."
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Acho que ele foi encontrado no caixote do lixo. Não que isso fizesse grande diferença. Para mim era precioso. O importante era como tinha vindo até mim. Era exactamente como eu o imaginava. Como eu sempre o tinha fantasiado, desde que era apenas uma miúda e ele povoava os meus sonhos mais inconfessáveis. Esta noite ele seria meu. Sabia que no momento em que ele tocasse o meu dedo, o menos importante seria o lugar de onde ele tinha vindo. Esta noite o brilho daquele anel de noivado faria iluminar o meu coração.

Mote de: Nuno
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sexta-feira, 3 de julho de 2009

Qual é a tua cor hoje? (II)


Mote - Um texto iniciado por: "Quando ela pintou o cabelo de verde..."

Quando ela pintou o cabelo de verde, a sogra pensou que desta vez é que ela tinha enlouquecido! Aquilo já era de mais! É certo que naquele cabelo já tinha visto praticamente todas as cores que alguma vez julgara poder ver numa cabeça, aliás até já diversos tons esverdeados tinham acampado por ali mais vezes do que considerava aceitável, mas desta vez…

Estava sobejamente habituada às extravagâncias da rapariga e não gostava de recordar a única vez que a tinha acompanhado às compras. Ainda hoje se perguntava onde tinha ela descoberto aquela loja e arrepiava-se com a familiaridade com que a viu tratar as funcionárias e os restantes frequentadores do sítio. Era habitual ver-lhe nos pés umas coisas a que só uma alma benevolente chamaria calçado e as unhas já tinham passado por todos os processos de transformação e coloração possíveis. Tons claros e escuros, suaves ou garridos, tudo era opção para os artefactos que cobriam aquele corpo (quase sempre muito pouco…) desde que o resultado fosse notoriamente bizarro. Até sobre a depilação nas zonas íntimas já tinha ouvido umas histórias, mas nunca pensou que a rapariga tivesse o descaramento de colorir o cabelo de verde-alface.

Nem queria pensar no trabalho ia ter esta noite para esconder a descarada dos olhos do marido. Nem era tanto por saber que ele nunca morrera de amores pela nora, mas ainda estava bem viva na memória de todos a histeria dele quando, na semana passada, o filho, sempre dado a partidas, tinha levado a cabo a sua mais recente brincadeira ajudado por aquela doida: de noite, enquanto a casa dormia, dedicaram-se ambos a pintar, exactamente daquela cor, as cabeças de todos quantos nela se encontravam. Nem a avó havia escapado!

Mote de: Graça
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