domingo, 1 de março de 2009

O espaço à minha volta


Vagueando pelo espaço circundante à sala e aula, com a percepção máxima dos cinco sentidos, anotar todas as sensações por eles alcançadas. Escrever um texto sobre a experiência

..................(saio para o hall, toco na aduela de uma porta)

É rugoso. Ouço um dossier que se fecha sobre uma mola ruidosa. Ouço passos. Ouço uma caneta que não é minha. Vejo a rua. Ouço um ruído de fundo de uma qualquer máquina que não identifico. Ouço uma porta a ranger.

Sinto frio e sinto medo.

.................(desloco-me para o exterior, fico no patamar da escada)

Vejo branco. Branco polvilhado de negro e castanho. Há madeiras porosas e pouco tratadas. Há uma parede áspera que alguém quis tratar com tinta de areia. Arranha. Continuo a ouvir um zumbido de uma máquina ininterrupta. Há à minha volta uma esfera de velho e antigo.

É a cidade envelhecida.

Sinto frio e sinto medo.

Sinto a aragem de uma janela aberta. Ouço o ruído. Será uma ventoinha? Há degraus que se precipitam á minha frente.

Sinto vertigens.

.................(volto à sala)

Recuo. Volto á sala e toco num quadro meio-esferovite, meio-madeira. Áspero. Também ele arranha.

.................(passo para a outra sala)

Passo à outra sala. Uma cortina preta cobre a janela onde devia haver luz. Talvez quem a colocou ali saiba que é noite, do outro lado só a escuridão. Toco a cortina. É leve e mais agradável ao toque do que pensei. Toco-lhe e ela esvoaça. Logo abaixo dela a janela é rematada com uma pedra cinzenta. Dura.
Apoio a mão sobre uma mesa de madeira para escrever. Vou agora senti-la.
É lisa, mas percebo-lhe os veios. Móvel de outros tempos, madeira a sério. É macia e agradável.

À minha volta branco, preto, castanho. Paredes, cortina, degraus, móveis.

.................(volto à sala de aula)

Volto à sala. Sento-me. Há luz. Finalmente saio da penumbra. Escuto as cores, olho os sons na rua, ouço a vontade de não largar a caneta.

Sinto vontade de escrever.

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