Quase noite, mas ainda o cinzento do dia. Cinzento de chuva. Uma chuva que incomoda. Conduzo de regresso a casa. Casa. Seguro o volante com uma mão. A outra vagueia, distraída. Ajeita o cabelo, pousa no assento, na caixa de velocidades, passa pelo rosto, descansa momentaneamente na perna, desliza para a caixa outra vez e aí fica. A dança dos pés nos pedais não me é estranha, mas é como se dela não tivesse consciência. Como de nada do que me rodeia. Vejo sem ver a auto-estrada, um ziguezague á minha frente, as luzinhas vermelhas dos carros à minha frente, todos em movimentos iguais aos meus, mas todos a anteciparem-me. Regresso. Um nevoeiro cerrado a subir a serra. Um verde cinzento na natureza. Do verde bonito dos dias de sol, nada. O rádio a tocar, eu sem ouvir. Naninni? Talvez. A voz é rouca, soaria bem se eu a ouvisse. Não ouço.
Desde que te foste embora, não ouço. Não ouço, não sinto, não vejo. Regresso. Casa. Penso no tempo em que a minha casa era uma janela. Uma janela de ilusões. Mas tu foste embora e ficou o vazio. Incomparável.
Conduzo devagar. Um vagar desatento de quem não dá conta. A voz é agora masculina. “E é sempre a primeira vez, em cada regresso a casa”. Veloso. Faz-me lembrar-te. Por onde andas agora?
Eu sabia a cada vez que. Sempre que. Em todas as vezes que
- enviar
um friozinho, porque eu sabia que. Que podia ser a ultima. Que talvez já não viesses. Regresso. Às vezes demorava dias, semanas até. Às vezes era espontâneo, outras vezes um mero acaso. Mas sabia que podia ser a ultima. A ultima vez que. Enviar.
Outra voz masculina. Num inglês sensual, diz que precisa de mim esta noite. Rio-me histericamente ao pensar que não fala para mim. Que nunca ninguém assim para mim.
Avanço. Chove ainda. A estrada inclina-se e uma Beatriz Costa em madeira anuncia-me por onde passo. Uma subida agora e a portagem já ali à frente. Estou quase. Regresso.
Aprender. São assim agora os meus dias. Aprender a tua ausência. O livro da Margarida devolvido á prateleira depois de lido e tanto de mim ali. Uma ausência diária. Aprender. Recuperar a partir do que ficou, do que tenho. Definho e nem dou conta. Tanto de mim ali. Inexplicável.
Estou de regresso a casa.
Dizer-te só mais uma vez. Quando desceste do meu comboio, deixaste uma permanente saudade. Inesquecível.
Desde que te foste embora, não ouço. Não ouço, não sinto, não vejo. Regresso. Casa. Penso no tempo em que a minha casa era uma janela. Uma janela de ilusões. Mas tu foste embora e ficou o vazio. Incomparável.
Conduzo devagar. Um vagar desatento de quem não dá conta. A voz é agora masculina. “E é sempre a primeira vez, em cada regresso a casa”. Veloso. Faz-me lembrar-te. Por onde andas agora?
Eu sabia a cada vez que. Sempre que. Em todas as vezes que
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um friozinho, porque eu sabia que. Que podia ser a ultima. Que talvez já não viesses. Regresso. Às vezes demorava dias, semanas até. Às vezes era espontâneo, outras vezes um mero acaso. Mas sabia que podia ser a ultima. A ultima vez que. Enviar.
Outra voz masculina. Num inglês sensual, diz que precisa de mim esta noite. Rio-me histericamente ao pensar que não fala para mim. Que nunca ninguém assim para mim.
Avanço. Chove ainda. A estrada inclina-se e uma Beatriz Costa em madeira anuncia-me por onde passo. Uma subida agora e a portagem já ali à frente. Estou quase. Regresso.
Aprender. São assim agora os meus dias. Aprender a tua ausência. O livro da Margarida devolvido á prateleira depois de lido e tanto de mim ali. Uma ausência diária. Aprender. Recuperar a partir do que ficou, do que tenho. Definho e nem dou conta. Tanto de mim ali. Inexplicável.
Estou de regresso a casa.
Dizer-te só mais uma vez. Quando desceste do meu comboio, deixaste uma permanente saudade. Inesquecível.
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