terça-feira, 22 de abril de 2008

Aparelhómetros


Sugestões de máquinas ainda por inventar para medir tudo aquilo que a imaginação permitir. Um texto usando um ou mais desses deliciosos aparelhómetros

Aldrabório, amorómetro, apaixonómetro, broncómetro, chulímetro, chulómetro, complicómetro, desesperómetro, estupidómetro, fartómetro, felissómetro, frissómetro, futurómetro, imaginómetro, infinitómetro, irritómetro, mentirímetro, mentómetro, odiómetro, pulguímetro, risómetro, stressómetro, trabalhímetro, zanguímetro

Era unanimemente aceite naquela altura do ano que o Aldrabório era mesmo o aparelho mais usado naquelas bandas. O fim do ano era trágico em qualquer retrosaria, mas no Rei dos Botões gerava um stress acima de qualquer medida. Chegava o dia do inventário e nem o Stressómetro ajudava! Como medir tanto metro de passamanaria, quem aguentava registar tanto botão de tanta cor, para quê ter encomendado ao fornecedor tantos remendos para rasgões na roupa? Só para dar trabalho no dia em que na porta se afixava o letreiro “Fechado para Balanço”!
O contabilista, com o seu Desesperómetro ao rubro, já só roía as unhas e pensava em como teria de accionar rapidamente o Aldrabório para acertar tanta imprecisão nos números que meticulosamente todos registavam. Só o funcionário do corredor do fundo com aquele ar de estarola e aquelas calças horrorosas a chegar aos joelhos, parecia ter activado o Felissómetro e cantarolava despreocupadamente enquanto os seus dedos corriam ágeis sobre papéis cheios de colunas traçadas ao alto.
O patrão, esse, mordia uma grande peça de veludo amarelo matizado enquanto pensava em quantos dias teria ainda que ter aquelas portas fechadas ao público, fazendo contas no seu Trabalhímetro aos prejuízos verificados. Com o Irritómetro e o Zanguímetro a competirem no volume máximo, dirigiu-se ao rapaz, que continuava em alegre cantoria e pediu-lhe satisfações, quase caindo de espanto ao ouvir por resposta:
- Ó chefe, desligue o Complicómetro!

Sem comentários: