quarta-feira, 15 de abril de 2009

Histórias que crescem


Em quatro frases, contar uma história (quatro momentos: A, B, C, D). Depois, expandi-la, “preenchendo” com 3 novos elementos de texto entre cada frase, de forma a complementar essa história, sem lhe retirar o sentido original.

História inicial:
[A] Entrei no autocarro mas não reparei nele logo de imediato.
[B] Afinal, não é todos os dias que se vê alguém a estender-nos a mão no exacto momento em que nos vamos sentar.
[C] Foi então que compreendi o que andava ali a fazer aquela figurinha.
[D] Nem queria acreditar que se tratava de um “arrumador de lugares”, que tentava ganhar a vida dentro de um autocarro!

Versão expandida:
[A] Entrei no autocarro, mas não reparei nele logo de imediato. [A1] Tinha sido um inicio de dia aterrador. [A2] Tinha queimado a torrada, o café estava tão quente que ainda sentia a língua a arder, o endiabrado gato do meu vizinho conseguira outra vez pular a cerca e saltar-me para cima, rompendo-me as meias com as suas garras. [A3] Além disso, dois relatórios, ainda inacabados, para entregar impreterivelmente nessa manhã, olhavam-me de dentro da pasta sem qualquer contemplação, desafiando toda a minha capacidade de manter a calma. [A4] Foi por isso que nem dei pela presença de um vulto de gabardina, que teimava em permanecer no corredor do autocarro e se aproximava cada vez mais de mim.
[B] Afinal, não é todos os dias que se vê alguém a estender-nos a mão no exacto momento em que nos vamos sentar. [B1] A princípio, ignorei-o, mas depois tornou-se impossível: notei que à minha volta várias pessoas já se riam à socapa. [B2] Que quereria aquele homem de aspecto sinistro? Seria alguém a querer impor-me mais uns quantos folhetos publicitários? Mas agora já nem no autocarro podia estar em paz? [B3] O mais estranho é que eu não via quaisquer sinais de propaganda naquela mão, que apontava assustadoramente para mim. Apesar do espanto, pensei tirar partido da situação, apelar ao meu sentido de humor, agarrar-lhe a mão peluda e desatar a ler-lhe a sina. [B4] Tive vontade de rir histericamente da minha própria ideia, mas pareceu-me mais prudente não fazer nenhuma das duas, quer agarrar a mão dele, quer desmanchar-me a rir, como se mundo fosse acabar ali.
[C] Foi então que compreendi o que andava ali a fazer aquela figurinha. [C1] Tudo porque a pessoa sentada a meu lado me deu uma discreta cotovelada, apontando levemente com a cabeça na direcção da proeminente barriguinha do cavalheiro. [C2] Reparei numa pequena bolsa que trazia atada à cintura onde, com a mão livre, titilava ruidosamente diversas moedas que ali se encontravam. [C3] Percebi que aquele senhor tinha dado um novo fôlego à já satura profissão de “arrumador de automóveis”. [C4] E percebi também que aquele senhor procurava encontrar-me aquele que, para ele, seria o melhor lugar para me sentar. Nem preciso de vos dizer que ele contava ser recompensado por tão árdua tarefa.
[D] Nem queria acreditar que se tratava de um “arrumador de lugares”, que tentava ganhar a vida dentro de um autocarro!

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