quinta-feira, 26 de junho de 2008

Que agitação!


Mote: o movimento

Em grupo. Num pequeno passeio pela Baixa, anotar todos os movimentos de que se tenha percepção, mas sem atender a qualquer som. Como se fossemos surdos. Fazer então um texto a partir da ideia: “alguém caminha velozmente quando…”

Alguns dos movimentos registados: carros que passam; pessoas em passos apressados; uma jarra que tomba numa montra; nuvens que se movem; outdoors eléctricos e semáforos que “caem”; malas em ombros femininos; brincos que abanam nas orelhas; braços que se agitam; bicicletas que rodam, eléctricos amarelos que passam.
Há uma imensidão de objectos que esvoaçam: folhas de árvores; bandeiras em janelas; toldos em montras; saias; cabelos, pássaros, echarpes; fumo de tabaco; a folha do papel onde escrevo.

Este texto privilegia e pretende explorar a ideia de movimento.

Estava decidido! Era hoje que ia apresentar a minha demissão daquele emprego ultrajante! Não, não voltaria a passar novamente por aquelas cruéis humilhações. Saltei do carro, bati com a porta, e, pela rua fora com o cabelo a esvoaçar e a bater levemente na écharpe que saltitava ao ritmo dos meus passos, não pensava em mais nada, nem via as pessoas que apressadamente se cruzavam comigo.
Sabia exactamente qual o momento que havia determinado a minha decisão: ao abrir a porta do café, avistei a bandeira da Associação Amigos do Pedal hasteada nessa noite que, em conjunto com aquela jarra virada a pino que enfeitava a montra no outro lado da rua, me fez perceber que tudo o que precisava era partir à aventura com uma mochila às costas no selim de uma bicicleta. Como alguém havia feito à jarra, iria virar a minha vida de pernas para o ar.
O vento fazia-se sentir e empurrava as nuvens, os toldos das montras abanavam, mas da cidade eu tinha só uma vaga impressão. Mal reparava nos outdoors eléctricos que caiam em repetidos movimentos ou nos brincos que ondulavam em cabeças de mulheres afirmativas que movimentavam o pescoço em tontas e animadas conversas alheias, não queria ter consciência de eléctricos amarelos e outros engenhos de uma vida antiga que iria agora deixar para trás de mim. Já quase corria, a direcção a seguir era uma certeza.
E foi nesse preciso instante que um jovem, puxando de um cigarro, soltou uma tal baforada de fumo que me cegou por instantes. Não vi o cair do semáforo, avancei (decidida, já vos disse, não disse?) e foi então que fui frontalmente atingida por um ciclista que saía, desastrado, da mesmíssima Associação que me havia feito decidir mudar o rumo à minha vida.
Em voo picado, fui projectada para o interior de uma agência de viagens que prometia concretizar sonhos em paragens longínquas, e foi assim que, mais depressa do que na realidade pretendia, vi ocorrer em breves minutos a tão ansiada mudança na minha vida ao ser arremessada para dentro de uma ambulância que arrancou, veloz, à procura do hospital mais próximo!
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1 comentário:

dulce surgy disse...

Isso realmente é verdade...

É melhor ter cuidado com o que se deseja!!!!!!

:)